quarta-feira, 26 de junho de 2013

Se não fosse Deus bancando o escritor



(...) Entre todos os seus olhares profundos demais, suas palavras doces e todo o pouco de mundo inteiro que você me deu, não cabe em alguma explicação pensar que, de todo o amor que você tem pra dar, não fui eu quem coube nesse encaixe. E mesmo que eu te admire muito e você me ache linda, não há como encaixar um quadradinho num formato de coração.(...) E eu aqui feito Dom Quixote procurando moinhos de vento para lutar por você. Sabendo que mesmo que eu vença todas as batalhas, você vai continuar sendo o cara que gosta de tudo o que eu sou, de tudo o que eu gosto, e mesmo assim, prefere a companhia da solidão. 
Tudo bem, o tempo vai passar e eu vou encontrar em outros olhos o que você não quis me dar.(e eu não te culpo, a vida dá dessas).

E então aquela ideia babaca de destino volta a me perturbar.
Por que dentre tantas as pessoas que se esbarram no mundo, fomos logo nos esbarrar? E por que, dentre tantos mundos e fundos onde me enfio, foi logo na palma das suas mãos que eu encontrei um lugar para pertencer? E por que, se há tantos anos procuro um local de pertencimento, logo agora percebi que não se trata de ser um lugar? Por que de repente, uma certeza me assusta mais que todas as dúvidas que eu já pude questionar? (...)

... E essa mania de lembrar de tudo feito um gravador.  

terça-feira, 18 de junho de 2013

Sobre esperança de um novo amanhã...


Todos os dias ao acordar eu leio um panfleto que recebi na peça “Opera dos Vivos”- da Cia do Latão em 2011. Gostei muito da frase, principalmente porque coincidiu com o momento em que eu decidia que além de atriz e cantora, também queria ser dramaturga. O panfleto, desde então, fica no meu mural, junto às fotos dos meus amigos e familiares mais queridos. 

Lutar com palavras. 
Por muitas vezes tenho receio de expor a minha opinião sem pensar MUITO antes de falar. Tenho receio de parecer ou ser contraditória. Mas como não ser contraditório na atualidade onde tudo o que nos cerca parece mais uma metáfora mal formulada do que um relato real dos acontecimentos?
Como formar sua opinião a cada dia, se os fatos se atropelam e tudo é tão manipulável que você questiona se está sendo manipulado ou se está pensando realmente baseando-se em tudo o que você aprendeu, refletiu, solucionou com a própria cabeça e coração? (Sim, eu acredito que o coração também pensa. Do jeitão dele, mas pensa). 
Quanto ao que parece sem frutos. 
Penso que meu papel como artista vai além de fazer o que é Belo. Muito além de fazer o público se emocionar e vibrar ao distrair-se e divertir-se. Penso que preciso fazer pensar. E o mais delicioso é ouvir as pessoas refletindo sobre o que viram, ou ouviram. Nesse momento elas tomam a minha arte para elas, e um pedaço de mim fica guardado ali. E o mais bonito disso é que a arte é de todos e quanto mais compartilhada melhor ela cumpre com sua função.  Mas tudo parece em vão, quando é preciso dar tantas voltas para finalmente conseguir compartilhar sua arte. Não tem espaço, não tem interesse, não tem onde nem por que. No mercado de trabalho e aqui eles só compram o que “vende” comercialmente para o público... E no teatro as pessoas não querem ir para “pensar”. (É o que dizem. Eu discordo. Mas continuo com portas fechadas para mim). Senti um vazio enorme quanto à minha função na sociedade. Não desisto, vou encontrar meu lugar no mundo... Mas, por enquanto, parece sem frutos

Tudo me parecia lindo e incompleto.  A Luta parecia em vão. Em meio a tanta confusão que o mundo me mostrava, tudo parecia corrompido, o sentido das palavras, seu real significado, seu novo significado, a violência e velocidade da roda da vida que parecia atropelar todo o meu país. Eu cheguei a refletir que a inversão das palavras me parecia mais apropriada. Não tem luta. Não tem palavras. Me parece e (é) sem frutos. Só tem carne, sangue e luto. 

E então, eis que chegou um dia muito importante para essa frase. E para a minha vida: Dia 17 de junho de 2013. 
Disseram desse dia que um gigante acordou. Eu tenho para mim que já tinha muita gente acordada. Mas também acuada, com medo da repressão dos conhecidos por dizerem o que queriam o que sentiam e o que precisavam dizer para não morrerem sufocadas. Era a insatisfação geral que essa gente engolia junto com café com pão de cada manhã. Por muitas vezes pensando “não posso reclamar, o que eu tenho não é muito, mas já é alguma coisa”. E a indignação cada vez maior com tudo o que se ouve e lê pelos jornais. É um país que de tão cansado e sufocado não sabia nem por onde começar a lutar. 
Mas alguém começou. E os pequenos gigantes que, estavam acordados - mas um pouco desnorteados, conseguiriam levantar suas cabeças cansadas e envergonhadas e olhar para os lados. Viram então, que não estavam sozinhos.
E tinha também uns “tals playboyzinhos” que tinham opinião. Claro que eles tinham. Tiveram a oportunidade de usufruir da educação. Tiveram grandes mestres professores que ensinaram o caminho para formar sua própria opinião. Esses “boyzinhos” tiveram a chance que eles querem que todos ao seu redor também tenham: A chance do alimento para além da sobrevivência “animal”.
 A chance de saciar a fome que sustenta a dignidade, a mente e o coração. Orgulho é a palavra que significa muito mais que um egoísmo besta. ORGULHO é o que se deve sentir ao se levantar da cama e percorrer seu caminho, dia após dia, rumo a mais bonita história que você vai escrever. A sua e a do seu povo.

Portanto, querido Drummond de Andrade. Hoje, eu acordei li sua frase e sorri. 
Lutar com palavras
parece sem frutos.
Não têm carne e sangue... 
Entretanto, luto. 

Entretanto, tem luta.
As palavras são fruto de uma geração que não vai mais se calar.
Os frutos virão. Nem que percamos nossas vozes de tanto gritar.
O povo agora entendeu onde fica o seu lugar
O povo agora sabe que vale a pena falar
E se não valer, nós faremos valer. 
O povo agora sabe onde fica o seu lugar.  


*Gostaria de ressaltar que, apesar da frase utilizada para o meu momento de reflexão mostrar que a luta com palavras não machuca ninguém, me refiro às manifestações que sofreram repressão policial e alguns atos de vandalismo que acabaram por machucar pessoas, jornalistas e policiais. A todos que passaram por isso, devo o meu respeito e torço para que se recuperem da melhor forma possível. Aproveito para agradecer também por terem lutado por mim.


sábado, 1 de junho de 2013

Sobre os fardos pesados demais...



Estou há um tempo tentando comprar um espelho.
Mas talvez não seja a merda da falta de dinheiro que me impede (ou impeça).
Talvez seja a falta de coragem de me olhar do jeito como eu sou.
É difícil demais entender seus próprios erros imperdoáveis.
Difícil ver que nada é como você quer/ou pensou que seria.
Difícil é enxergar/encarar a realidade.
Difícil é viver onde as pessoas não são de verdade. Difícil é ser como sou. "Só a mim me coube ser eu". Mas às vezes esse fardo é pesado demais. E dói. Crescer dói. As interrogações são quase espinhos. E as pessoas não são de verdade. Não falam a verdade. Não  vivem de verdade, e ainda assim, jogam merda no ventilador.